Storytelling: Uma maneira “moderninha” de denominar um antigo hábito

Uma pintura rupestre de um Javali com duas mãos segurando suas patas traseiras feita a 45.000 anos atrás e encontrada na atual Indonésia é a mais antiga narrativa criada pela humanidade.

Contar histórias não é uma atividade nova. O Storytelling, termo amplamente difundido por publicitários e agências nos últimos anos, tem origem da forma como conhecemos hoje, nos fundamentos da Poética de Aristóteles, onde surgiram as primeiras teorizações sobre o ato de contar histórias.

Durante séculos, a habilidade humana de contar histórias manteve-se nas “plataformas” oral, teatral e literária.

Considerado o primeiro experimento narrativo para o Cinema, Life of an American Fireman do cineasta (Edwin S. Porter, 1903, EUA), proporcionou o surgimento de histórias mais complexas para o dispositivo midiático, que vieram a seguir com os clássicos, O nascimento de uma nação (D. W. Griffth, 1915, EUA) e Encouraçado Potemkin, (Sergei Eisenstein, 1925, Rússia) que abriram as portas para a indústria do cinema que consumimos ao longo do último século.

No universo dos games, o RPG trouxe uma possibilidade que até então não existia no ato de contar e ouvir histórias, transformar o expectador, em um personagem atuante e participativo da narrativa.

Lançado em 1975, Dungeons & Dragons foi um marco e até hoje é considerado o responsável pela difusão do Role Playing Game no mundo. A partir das experiências vividas por esse jogo interativo de tabuleiro, novas iniciativas foram desenvolvidas para trazer a interatividade ao Universo digital. Colossal Cave Adventure (1976), do desenvolvedor e programador Will Crowther, trouxe a ficção interativa dos “livros jogos” para os computadores.

A melhor definição que podemos ter de Storytelling interativo é: “um meio onde a narrativa, e sua evolução, podem ser influenciadas, em tempo real pela sua audiência.” Ou seja, além de interagir com a história, você tem que participar ativamente da narrativa. A partir daí surge além do Story e do Telling um terceiro conceito, o gameplay.

Iniciativas de interatividade no audiovisual também não são novidade. O programa Você decide (1992, Rede Globo), já trazia ao expectador, mesmo que de uma forma limitada – ligação telefônica-  a possibilidade de definir um desfecho para a história contada.

Mesmo possuindo limitações em relação aos jogos de tabuleiro RPG, onde o tempo é livre e a imaginação ilimitada, as crescentes facilitações trazidas pelos suportes digitais, devem ampliar nos próximos anos a forma interativa de produzir conteúdos audiovisuais.

Bandersnatch, uma séria derivada de outra séria de ficção científica da NETFLIX (Black Mirror), foi a pioneira na plataforma streaming a dar ao espectador poderes de decidir os rumos da história e o destino dos personagens.

O termo “moderninho” para definir algo que é intrínseco do ser humano, surgiu em 1993 com Joe Lambert em um projeto chamado, “American Film Institute” onde pessoas contavam suas histórias para os meios digitais.

A técnica do storytelling, hoje difundida como algo extraordinariamente nova e criativa, baseia-se na obra literária do autor Joseph Campbell “O Herói de mil faces” e tem sido vendida ao longo dos últimos anos por profissionais de comunicação como uma poderosa ferramenta de vendas, e de fato é.

Contar histórias é uma forma e de despertar paixões e afetos no receptor – público alvo – e com os inúmeros dispositivos midiáticos tornou-se uma atraente e eficiente forma de comunicar algo maior do que os benefícios que o consumidor terá ao comprar determinado produto, experiências e principalmente empatia.

Uma característica que deve ser levada em consideração ao desenvolver o seu Storytelling é que a partir da história contada você criará uma conexão com quem a assiste. Portanto, é essencial que você conheça seu público alvo para que o objetivo seja atingido e sua marca seja lembrada de maneira positiva pelo público consumidor.

A arte de contar histórias, podem ser aprimoradas por técnicas de escrita que foram difundidas ao longo dos anos e baseiam-se em modelos e estruturas já bem conhecidos dos roteiristas de cinema e propostas por Aristóteles, que considera a trama, a sucessão dramática dos eventos, a alma da tragédia, onde o personagem não terminará a história da maneira que começou, pois passará por uma transformação ao vivenciar os eventos

A estrutura recorrente nas narrativas, sejam elas desenvolvidas para qualquer meio, baseiam-se na seguinte fórmula

Um personagem (protagonista) que busca algo (objetivo)

Encontra um obstáculo (antagonista)

Tal obstáculo (antagonista) pode ser representado por outro personagem, um fator interno (trauma) uma tragédia natural ou até algo corriqueiro (um pneu furado)

A partir dessa equação, as ações do seu personagem moverão a história para que ele alcance seu objetivo. Portanto, é bom ter em mente ao desenvolver uma narrativa que não existem histórias sem conflitos

Uma boa dica para quem quer iniciar o desenvolvimento de narrativas é utilizar o modelo de divisão em 3 atos. O primeiro ato fundamenta-se na apresentação do seu personagem, o segundo, no surgimento do obstáculo e as ações do personagem na tentativa de removê-lo e o ultimo, na resolução do problema

Ao percorrer o texto escrito acima pergunto:

Storytelling é ou não é uma maneira “Moderninha” de denominar um antigo hábito?

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