A quinze anos atrás, ao me deparar com um monitor de LCD (tecnologia da época) posicionado de maneira vertical em um supermercado, anunciando um alimento de preparo rápido de uma grande indústria, pensei, vou escrever o manifesto do Cinema em Pé e produzir um filme na vertical.
Não escrevi o tal manifesto, nem produzi o filme, mas aqueles que foram meus alunos no curso de Cinema da Universidade Anhembi Morumbi se deleitavam com a proposta e ainda lembram com certo saudosismo da ideia de produzir filmes na vertical.
Nessa época, isso era embrionário, mas sempre tive a certeza de que os profissionais da imagem teriam que se adaptar a novos recortes ou enquadramentos, como preferir chamar a arte de selecionar no “despolido” da câmera aquilo que o fotógrafo quer registrar.
Com o surgimento de inúmeras plataformas digitais e a crescente evolução dos smartphones como ferramentas de captura de imagens, enquadrar em inúmeras “janelas” passou a ser uma obrigação para fotógrafos e videomakers.
Quem produziu imagens nos tempos do 4:3 (u-matic, Betacam, High8, vhs e outras ultrapassadas tecnologias), viu-se obrigado a aceitar um novo campo visual nas laterais dos enquadramentos com a chegada do 16:9. Nada comparável aos 1:1, 9:16, 4:5, 1.91:1, 2:3 introduzidos por plataformas de difusão de imagens como o Facebook, Instagram, Pinterest, Tiktok, Twitter, Linkedin e tantas outras utilizadas por bilhões de usuários ao redor do globo.
Determinar para qual dessas plataformas você está produzindo imagens é o primeiro passo para alcançar bons resultados, uma vez que saberá ao usar um equipamento profissional de vídeo, que invariavelmente trabalha em 16:9, a parte do enquadramento que utilizará e também o que será descartado da sua paisagem, produto, modelo, objeto …
Portanto, ao produzir em 2K (2048 x 1080) 4K (3840 x 2160), 6K (6.016 pixels x 3.384) a vida do profissional será consideravelmente mais tranquila, uma vez que em pixels a maioria das plataformas exigem em seus múltiplos formatos uma resolução que não ultrapassa 1920×1080 pixels, independente da proporção (formato).
Vale lembrar aos desavisados, que embora exista a facilidade de rotacionar e escalonar imagens ao finalizar seus projetos em vídeo é sempre válido criar folgas ou áreas que não estariam em um enquadramento “convencional”, ou seja, ao registrar somente aquilo que julga um enquadramento perfeito o profissional da imagem pode ser surpreendido no processo de criação e se perguntar: porque não deixei uma folga no enquadramento?
O cinema continua confortavelmente deitado da mesma forma que veio ao mundo. Já o audiovisual levantou, se colocou em pé, caminhou, correu e nos últimos anos está fazendo Parkour.